sábado, 7 de setembro de 2013

Au-Gusta, Senhora dos Gostos e Dona dos Mistérios


Augusta é o seu nome. Pomposo, forte e irreverente ao mesmo tempo. Soa alto, como um grito com o Au das duas vogais, que complementa o Gusta, remetendo ao gosto individual e particular. Mas caberia muito bem também chamá-la de Liberdade ou Donzela da Libertinagem. Era noite, madrugada, vento soprava, mas não fazia frio.

O escuro daquela noite não tornou a rua vazia. Deixou-a mais movimentada, com corpos em transe, diversidade marcante no caminho, em determinados pontos apresentando refúgio de corpos entrelaçados em guetos livres de preconceito. Caminho esse trilhado a passos lentos ao lado de um amigo que recém conhecera, mas que igual não escondia o seu alento de trilhar o trajeto para chegar ao destino que leva o nome de Gusta.

Beijos entre homens, sedução, atração exacerbada, corpos em transe, delirantes, na busca frenética da transa sonhada ou simplesmente na venda do corpo, na abordagem não correspondida, na cantada escrachada ou nas feições feridas que afastavam o desejo contido.
Ah, Au-Gusta, que sabe como ninguém conduzir seus passantes em noites e madrugadas, onde a luz da lua a transforma em dia, sem muito espaço para definir sol e escuridão. Bares abertos, boates dançantes e carros passantes envoltos em um cenário que coloca corpos no mesmo embalo desse movimento frenético e seduz com a volúpia rasteira, tragando mentes e corpos como maremotos ou rios em dias sem frio. Movimentos delirantes, deixando mentes transtornadas, perdidas nas raias da loucura, espantando sono para não perder um minuto da sedução embriagada, drogada e tragada pelo contágio viral da Senhora Augusta.     


Prazer, Senhora Augusta, dona da Rua, da via arterial que liga os Jardins ao Centro de São Paulo e que como um orixá de Gira movimenta as noites de uma Paulicéia desvairada, na volúpia do prazer pelo prazer na conjunção carnal da atmosfera sexual.   

(Crônica em forma de conto de Roberto Carlos Dias em homenagem à Rua Augusta de São Paulo).

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