quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Rede social de Caxias no auge da letargia

A rede social de Caxias do Sul, que tanto orgulha a atual administração, que não se cansa de propagar investimento superior a 50% do gordo Orçamento do município nesta área, sofre de letargia. Os trabalhadores, que perderam suas casas em incêndio provavelmente criminoso no Beco do Patrola, no bairro Jardelino Ramos, na tarde quarta-feira, ainda não receberam a visita de assistentes sociais, psicólogos e de outros órgãos competentes, como Secretarias da Habitação e da Saúde e Fundação de Assistência Social (FAS). É a área mais sensível, onde se sobressai o cuidado com as pessoas.

O descaso é tamanho com a situação que o cuidar das pessoas parece ter sido relegado a terceiro, quarto plano, não fazendo parte das prioridades dos gestores municipais. Ora, as famílias perderam o seu teto, seu chão e tudo o que tinham dentro de suas casas. A solidariedade veio de vizinhos, amigos e familiares, que ajudaram a salvar o pouco restou dos móveis e abriram as portas de suas moradias para abrigar os desabrigados na noite de quarta-feira, que não tinham para onde ir com seus filhos. As equipes da prefeitura não compareceram sequer para oferecer lonas para cobrir o pouco dos móveis salvos das chamas ou para fazer o levantamento técnico para ajudar na reconstrução com o fornecimento de material de construção, como tijolos, cimento, areia, cascalho, telhas brasilit, entre outros.

                           Foto Dani Xú, Jornal Pioneiro/Divulgação


A rede de assistência social deveria funcionar de maneira integrada e articulada. Não precisaria as vítimas de sinistros ter de correr para pedir socorro, porque a prefeitura tem nas suas estruturas vastas equipes de assessores nas áreas de comunicação, marketing e publicidade, que, acredito eu, não estão em seus postos só para fazer a propaganda oficial do governo.

A partir do momento que sites de notícias, como o pioneiro.com e outros canais de comunicação noticiam desastres, as equipes já deveriam se deslocar para os locais para dar suporte e apoio. O Pioneiro noticiou a matéria logo no início do incêndio, por volta das 15h30min, mas o resto da tarde passou, chegou a noite e o dia da quinta-feira amanheceu sem nenhuma providência dos órgãos públicos.

Como os bombeiros integram a Defesa Civil do município, o comunicado deveria ser imediato aos órgãos públicos. Deveria ter um canal específico para essa finalidade. As ambulâncias do Samu também deveriam estar de prontidão para socorrer as vítimas, mas os deslocamentos desses carros seguem os ritos da burocracia. Sei do que estou dizendo por que uma das casas atingidas pelo fogo foi a do meu irmão, um trabalhador, pai de três filhos pequenos, que graças à família e amigos está reerguendo sua moradia. Ele recebeu nesta quinta a visita da assistente social da empresa onde trabalha, que vai adquirir parte do material necessário e descontar em folha de pagamento.

As chamas no Beco do Patrola começaram em uma casa de madeira nos fundos da residência de número 579 e causaram pânico, pavor e desespero. Ao falar com minha mãe ao telefone, podia ouvir o choro de desespero de um sobrinho de 10 anos. Ninguém ficou ferido. Há suspeitas de que o incêndio seja criminoso. Moradores da primeira casa a incendiar não foram localizados. A moradia onde o fogo iniciou, segundo testemunhas, estava fechada há meses, mas era frequentada por viciados em drogas, especialmente o crack. Indignada ao ver o companheiro se drogando no local com outras mulheres, a companheira, que tem um filho de colo com ele, teria jogado álcool nas paredes e ateado fogo para eliminar quem estava na casa, sem medir as consequências nem o risco a que estava expondo o próprio filho.

A casa do meu irmão e a um de vizinho dele, outro trabalhador, foram consumidas pelas chamas provocadas por um ato insano, onde mais uma vez as drogas, sempre elas, se tornaram o pivô da desgraça. São elas que a rede social precisa combater com força na ponta, com políticas públicas preventivas e eficazes e investimentos na recuperação e na internação compulsória (com autorização da Justiça se preciso for). É dessa forma que se cuida das pessoas.

Interessados em ajudar as famílias que perderam suas casas podem contatar pelos fones (54) 9954.4565, 9181.0077 e 9969.0559.