sábado, 5 de outubro de 2013

Manipulação midiática. Até quando?!

Compartilho aqui texto que desenvolvi para abertura de palestra de Néstor Busso, argentino relator da Lei de Médios da Argentina.

A democratização da mídia é uma necessidade histórica para o Brasil avançar nas mudanças que o país precisa. Não dá para aceitar a concentração de veículos de comunicação de massa nas mãos de nem 10 famílias, onde informações são manipuladas e deturpadas com frequência, onde linhas editoriais assumem discursos de partidos políticos de oposição ao governo através de canais que são concessões públicas, ou seja, do povo, que não se vê na sua grande maioria nas telas da TV, nas ondas do rádio ou nas páginas de revistas e jornais. Tudo que se quer com a democratização da mídia é regulamentar o que já está exposto na Constituição Federal de 1988, mas não é aplicado. 
O próprio inciso 5º do artigo 220 da Carta Magna diz: “Os meios de Comunicação Social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”.

Não se trata de censura e tentativa de intervir nos conteúdos e linhas editoriais, como tentam vender a ideia alguns canais de comunicação, mas assegurar o direito de resposta, que hoje não existe neste país na mesma proporção e na mesma velocidade da denúncia e da fragilidade da apuração dos fatos. No ano que vem estaremos completando 50 anos da declaração do Golpe Militar em nosso país, e as concessões foram feitas exatamente no período da ditadura, ou seja, muito tempo se passou e essas legislações não foram revistas.
Recentemente, assistimos as organizações Globo assumir publicamente em editorial televisivo um pedido de desculpa por ter apoiado o Regime Militar, mas demorou quase meio século para esse reparo ser feito, enquanto muitas famílias ainda sofrem até hoje a falta de notícias de seus familiares que perderam a vida em regime de opressão e viraram desaparecidos políticos.
No debate de 1989 entre Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, a Globo o editou para favorecer Collor e assumiu isso. Vivemos hoje um tribunal de exceção na mídia brasileira, onde se condena, julga, sentencia com sedução e emoção manipuladas e o reparo dos erros e equívocos não vêm na mesma proporção. O Direito de Resposta virou nota de canto página ou nota de rodapé ou coberta, no caso da televisão. 


O espaço para negros, índios, gays, lésbicas  e movimentos sociais são exíguos, quase inexistem, porque são personagens da segregação social que só rendem notícias quando é para mostrar as suas mazelas ou para criticá-los. Enquanto isso, emissoras  alugam e arrendam espaços em suas grades de concessões públicas sem qualquer restrição. Nem o governo federal nem o Congresso Nacional têm demonstrado interesse em assumir esse debate. É com esse propósito que o Fórum Nacional de Democratização da Comunicação, o FNDC, lançou um projeto de lei de iniciativa popular, que busca recolher 1,3 milhão de assinaturas para que a proposta possa ser avaliada pelo Congresso Nacional, no Senado e na Câmara dos Deputados.      

Feita essa contextualização, quero agradecer, na condição de coordenador geral do núcleo da Fundação Maurício Grabois Serra Gaúcha, aos Diretórios Acadêmicos de História, Jornalismo e Direito, aos professores e ao curso de Sociologia que também aderiu a nossa proposta.


Registro neste ato, para nossa alegria e satisfação, a presença do presidente nacional da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, jornalista e um intelectual e poeta de primeira grandeza, a quem convido para fazer uma saudação. 

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