A função social e
transformação do ensino superior não podem ser vistas e encaradas com a mera
propriedade de uma educação mercadológica, que só visa o lucro, dentro de uma
visão capitalista. É estranho ver a posição arraigada em torno do lucro a
qualquer preço do reitor Isidoro Zorzi no Pioneiro de hoje sobre a sua
contestação de repassar o Campus 8 da Universidade de Caxias do Sul (UCS) para
abrigar uma extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), como
propõe o vereador o presidente da Comissão Pró-Universidade Pública, Rafael
Bueno. Ao dizer não à oferta do Campus 8 é o mesmo que dizer não à UFRGS em Caxias.

Considerando a trajetória
política no PMDNB e acadêmica do reitor Zorzi é difícil aceitar essa falta de
sensibilidade social para com aqueles que não têm condições de cursar uma
faculdade na UCS. Mas, o reitor não é o único personagem desta história. As deliberações
na UCS são tomadas pelo seu Conselho Diretor, onde o Estado, o governo federal,
a prefeitura, a Mitra Diocesana, a CIC e o Virvi Ramos têm assento garantido. É
hora de envolver essas entidades e representações de Estado neste debate sob o
ponto de vista do seu papel social.
Ao mesmo tempo em que Zorzi
nega com veemência a transferência do Campus 8 para abrigar uma extensão
pública e de qualidade no ensino superior, alegando não ter onde colocar os
1.500 alunos que lá estudam, reforça que a Cidade Universitária tem mais de 500
salas de aulas ociosas, que poderiam ser alugadas pela UFRGS ou até mesmo para
a compra de vagas de cursos já existentes. Oras. Isso é fortalecer uma visão
maniqueísta e capitalista, que só visa o lucro.
O prefeito Alceu Barbosa
Velho e a Mitra Diocesana já se manifestaram a favor da vinda da UFRGS, mas é
preciso levar essa discussão para dentro do Conselho Diretor. Cadê a função
social dessas entidades? Da Igreja Católica? Do Estado? E o que pensa a CIC,
que tanto clama por mão de obra qualificada para atender o mercado de trabalho?
São questionamentos que
precisam ser respondidos e, principalmente, envolver a comunidade neste debate.
Os jovens, os filhos dos trabalhadores e os próprios trabalhadores têm o
direito de acessar o ensino superior de qualidade e gratuito. E as forças vivas
da cidade precisam estar engajadas neste debate. Do contrário, ele tem
dificuldade de avançar quando os interesses são meramente econômicos.
É inevitável também
trazermos para esse debate, que precisa ser público e com a sociedade, quanto a
UCS ganha de isenção de impostos do governo federal para carregar o caráter de
universidade comunitária.
E, para finalizar, espera-se
que a comissão eleitoral que vai conduzir o processo de escolha do novo reitor
da UCS tem a serenidade e a responsabilidade de ouvir a comunidade acadêmica e
não fazer como anos anteriores onde silenciou a voz a escolha dos alunos,
professores e funcionários. Espera-se ainda que o novo comandante da UCS tem
sensibilidade para essa questão da UFRGS, um outro olhar. Afinal, cadê o
comprometimento com a educação.